sexta-feira, 30 de outubro de 2009

AGRACIADO


AGRACIADO
Sandro Sanchez

Estou acostumando-me
ainda
com a sensação de leveza
alegria
certeza
e torpor

De início soava-me
a estranheza de nunca ter sido
agraciado
com imensa sorte
com tamanho carinho
com sincera e incondicional
preocupação


Estava até então em fécula
estático em pensamento
portentoso na solidão
mas,
serviram-me teu lábio
e todo o seu
fardo leve,
de sonhos


Sinto-me mais eu
mas não somente
eu
que faço esta
face sorrir
e sim o formato
perene
a pele
envolta em maciez
sem fim
ao menos hoje


Esta noite
eu sempre quis
esta flor de lótus
que em vasto céu
me deu a mão
e assim
então
desde então
vamos caminhar
sob artifícios
e sobre você
meu calor...

QUERIA ADORMECER


QUERIA ADORMECER
Sandro Sanchez

Herdei a confusão
a lembrança da textura da pele
herdei o perfume
o jeito escondido de viver


herdei a complicação
a delicadeza de fazer
o modo ereto de caminhar
o ato sem agir
que intimida


Sobrou a falta de fome
a flor que não se cheira
a exigência de ser afável
a plástica
a aparência
o sonho
o pesadelo
todas as noites
sem exceção


Ficou uma vontade
que o tempo teima
em não dissipar
o vento queima a pele
quando entro no campo
no tema
no seu espaço


Restou a elegância
a ânsia de descobrir
a prática do manuseio
a incerteza nas relações
a pureza da voz
a leveza
e por fim
a estranheza
adorável.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

TANTOS NORMAIS


TANTOS NORMAIS
Sandro Sanchez

Tantos são normais
tantos estão
aprumados
e intensamente normais
doloridos e normais

Sempre limpos
foscos
de bom caimento
perfeitos
belos
apenas em mim
não os encontro

Sou perecível
perto destas meninas
falível
mas em pensamento
este sim
me favorece
e criva
um tanto de esperança

Mas este mesmo pensamento
me prega peças
tira-me o chão
a firmeza
e torno a pensar nos normais

Normais
que de tão normais
chego
a desejar
juntar-me
e contrair
a sanidade

destes normais

não, jamás.

VAZIO


VAZIO
Sandro Sanchez

Sem idéia
sem conteúdo
penso no vazio
faltou fala
sobrou confusão
um branco
no vento também não encontro

Tanto acontecimento
quanto pensamento
simultâneo
vastos, tantas
flores agora
neste momento
não me encantam

Dia-dia
ação igual
entrego-me
a mesmisse
a mecânica
de ficar sempre no mesmo lugar
no mesmo banco
com a mesma face

Não tenho sido convidativo
assumo
a postura
de observar
e apenas
observar...

abandonei este prelúdio
fui direto
e sem pestanejo
ao fim
e não devo explicações
apenas vazio...

NÃO PODE SER SÓ ISSO


NÃO PODE SER SÓ ISSO
Sandro Sanchez

Meu mundo não pode ser só este
preciso viajar
preciso respirar
dar voltas
e descobrir o amor

Preciso vagar
no mar
pois sem sal
estou
tenho que sair
dar vazão a paixão
por esta vida

Estou preso
tenho que saltar
a vida não pode ser
somente isso
somente esta janela

Procuro alguém que me ame
pelo que sou
não pelo que pareço ser
preciso sair
viajar
transitar no véu
do mundo

Tenho que sair
pensar em todos nós
fazer do amor
ao próximo
um "hit"

Ter alguém
pra me olhar todo dia
por todo o dia
e dizer o quanto me quer
e o quanto a quero

Este não é meu lugar
lugar é tudo
preciso descobrir
e ser irresponsável com a lei
descobrir mais
conhecer mais
caminhar
muito mais...
procurar quem se sente...
onde estão os puros?
e os menos superficiais...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

INVENTADO RUGAS


INVENTANDO RUGAS
Sandro Sanchez

São passageiros
que deixo passar
não percebo
e quando vejo
fui despistado

Assusto então
será que devo de vez assumir
uma idade que não tenho?
sou pressionado a envelhecer
como posso ser
e gostar
de pautas
que não me pertencem?


Pecador de fato
por não envelhecer
por me atualizar
nem tentam
suponham
que como todos os outros
também envelheci

Não ouvem
não vêem
que o fardo e o rastro
só passa
pra quem sem graça
ou de graça
aceita

Pavor de ser ridículo
mas sei que não sou
devo envelhecer então?
pra encaixar-me
na instrução
na lei
devo usar sapatos?
criar rugas?

ter bens e
vangloriar-me
de ser estável
palpável
de realizar reformas
de despertar manhãzinha


.....de somente falar a língua da minha década?

AO REDOR


AO REDOR
Sandro Sanchez

É tudo muito lento
neste momento
sou vedor deste
deste fato
paciente de um quarto
neste profundo e improvável
tempo

Estou ainda pecando
mas agora
de forma mais vaga
a moça que acabou de passar
estranhou-me

A aeronave que flutuou sobre mim
percebeu-me
o estouro no céu
brindou-me
a luz na casa distante
me chamou

As folhas então
estáticas estão
a sombra é maior
o automotor não me
notou

O inseto parou pra me fitar
a música acelerou
mas parou logo em seguida
a vila está vazia
os bípedes não vieram

Meu corpo está em fervor
suando pra detalhes
de resto
nada moveu-se
a não ser a luz da casa distante
que se apagou

O MEU PERDÃO


O MEU PERDÃO
Sandro Sanchez

Me perdoem todos os leitores
se os assusto
se os amedronto
se os causo horrores

Se manifesto a preocupação
se os deixo no meio do pântano
se declaro minha escuridão
se faço chover a "cântaros"

Perdoem não a mim
mas a minha verdade
perdoem este sofrimento sem fim
e se puderem
me matem

Não foi intencional
causar tristeza
ser brutal
nem quero avareza
apenas quero
uma condicional

Peço sinceras desculpas
pelos meus sofrimentos
por minhas frustrações avulsas
peço arrego
um mar
um céu
um entendimento


Desculpem o equívoco
o erro
o trágico e o lírico
o máximo
o mínimo
por ter sido pálido
patético
e crítico.

Meu perdão
pra você que entristeceu
ao ler
tentar entender
o sofrimento meu
prometo aquecer
este coração
sem vida
sem sombra
com brisa
com ondas
com a fibra
que não se moveu.

NÃO MENTE


NÃO MENTE
Sandro Sanchez

Senta aqui na minha frente
e quando te perguntar sobre mim
não mente

Aperta minha mão
olha pra dentro do meu coração
se aguente
não segure pra sempre
esta sua emoção

Pare de cercar doentes
me aceite,
mesmo que uma serpente
te diga que não

Às vezes
preciso de um ente
pra passear sobre o leito
da minha oração

Venha pra mim
se enfeite
e olha pra essa gente
de aparente fração

E quando for prudente
não esqueça que a mente
não chega perto
nem sente
o que faço de bom

E quando estiver crente
que acabou a paixão
acorde, quebre a corrente
pois assim se sente
e se obtém o perdão

E sob a lente
deste seu escrevente
tudo é imaginação
a sanidade caminha rente
a alegria depende
da sua aparição

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

PARADO (UM POUCO)


PARADO (UM POUCO)
Sandro Sanchez

Vou parar um pouco
não tenho tido luminosidade
nem sinônimos
metáforas
expressões
nem paz canina


No embate eterno
contra mim
perco eu... e só eu


Vou parar um pouco
tornar-me mais e mais
invisível um pouco
sentar , sorver
soluçar sem querer parar


Então paro um pouco
estou seco
você já sabia
me conhecem tão bem
porém não sabem cuidar



Parei um pouco
e não uso almas e corpos
para esquecer outros
por mais que sei que faça

você as almas e espíritos
agrada


Tudo parado
sem quetais
e aqui fico
findo
fecho-me
pro querer.

EXPLICANDO


EXPLICANDO
Sandro Sanchez

Passei aqui um bom tempo
uns bons parágrafos
a me defender
tenho que me explicar
mesmo sem precisar
lhe devo satisfação
mesmo ciente
que vai dar de ombros
como sempre

Como sempre me expliquei
passei quase uma vida
até agora
explicando-me
dando álibis
mesmo sem precisar

É este o trauma
de sempre
ter sido acusado
e julgado
por coisas que nunca fiz

Então explico-me
suplico agora
por um perdão sem hora
minhas cem horas
senhora do tempo
menina do vento
"moleca" do mundo


Entenda agora
que noventa por cento
eu não fiz
mas sempre alguém
esperou explicação

Então está aí
uma eterna satisfação
uma submissão
uma fraqueza
para encher a cabeça de vocês
de calma
de alívio
e certeza.